João 1
No princípio era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no
princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por
intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
O texto começa dizendo que No princípio era
o Verbo. Primeiro devemos identificar quem é esse "Verbo"
João deu testemunho dele,
e clamou, dizendo: Este é aquele de quem eu
disse: O que vem depois de mim, passou adiante de mim; porque antes de
mim ele já existia. Pois todos nós recebemos da sua
plenitude, e graça sobre graça. Porque a lei foi dada por
meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus
Cristo. Ninguém jamais viu a Deus. O Deus
unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer. (João 1:15-18)
João 1:15 ao falar "testemunho dele",
o ultimo nome citado, foi o "Verbo" em João 1:14, indicando que o
Verbo era Jesus Cristo.
O texto de João 1:15-18 elucida a compreensão
de João 1:6-8.
Houve um homem enviado de Deus,
cujo nome era João. Este veio como testemunha, a fim de dar
testemunho da luz, para que todos cressem por meio
dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho
da luz.
Perceba que João 1:6-8,João testifica da Luz,
enquanto que em João 1:15 ele testifica de Jesus Cristo(João 1:16). A luz é o
próprio Verbo como vemos nas passagens a seguir:
Nele estava a vida, e a vida era a luz
dos homens; (Jo 1:4)
O que era desde o
princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que
contemplamos e as nossas mãos apalparam, a respeito do Verbo da
vida (1Jo 1:1)
Isso por si só já indicaria que o Verbo é Jesus
Cristo, mas perceba uma outra passagem mais clara ainda:
E vi o céu aberto, e eis um
cavalo branco; e o que estava montado nele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga
a peleja com justiça. Os seus olhos eram como chama de
fogo; sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome
escrito, que ninguém sabia sabia senão ele mesmo.
Estava vestido de um manto salpicado de sangue; e o nome pelo qual se
chama é o Verbo de Deus. (Apocalipse
19:11-13)
A passagem claramente se refere a Jesus Cristo.
Contudo, o mais intrigante é que o nome que ninguem conhece, o que
indica peculiaridade e uma identificação pessoal única(Ap 2:17) de Jesus,
é Verbo de Deus. Impossível obter qualquer outra
exegese. O nome de identificação pessoal do Filho é Verbo. Jesus
Cristo é o Verbo de João 1:1.
Agora,entendamos o porquê do Filho ser chamado
de Logos.
O logos, traduzido em algumas versões
como "Verbo", "Palavra", "Razão" e
"Sabedoria", vem sendo alvo de intensos e intermináveis debates,
então é exigido um tratamento sobre o termo em uma forma profunda.
No pensamento filosófico grego, Heráclito de Éfeso,
filósofo, que formulou a famosa frase:
Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não
se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da
impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e
vai.
Heráclito percebeu que se tudo muda, nada
existiria, pois em um momento ela é uma coisa,e em outra hora, outra. Assim,
teria que ter um princípio imutável no qual pudesse ser entendido tudo. Veja as
considerações de Vincent Cheung:
“Mas se tudo muda constantemente, então nada
realmente “existe”. Imagine que um escultor trabalhe uma peça de barro numa
aparência de um cachorro, mas antes de você dizer o seu nome ou até mesmo
descidir o que está em sua mente, o objeto muda num carro, então num edifício,
e então num pote. De fato,a aparência do objeto muda constantemente de forma
que nunca há uma coisa definida e reconhecível em qualquer ponto do tempo.Se
isso é verdade, então você ainda pode pelo menos chamá-lo de barro;contudo, e
se a substância do barro mudar constantemente? O barro muda em bronze, então
em ferro, então em gelo, e então em ouro.” (1)
Depois, os estóicos se apropriaram dessa idéia e a
desenvolveram. No estoicismo, o logos foi considerado como o
princípio da razão divina,o controlador do universo e por ser o
germe de onde tudo se desenvolve, o chamado Logos Seminal ( logoi
spermatikos), como as sementes e fagulhas divinas. Posteriormente, os
filósofos neo-platônicos adotaram a ideia. Confira no
Catholic Encyclopedia :
O Logos não é entendido como necessidade
imanente ou natural,mas como o agente intermediário pelo o qual o Deus
transcendental governa o mundo.(2)
Filo, filósofo judeu helenístico, adotou a essa
concepção de Logos. A Jewish Encyclopedia relata:
Da teologia alexandrina, Philo pegou
emprestado a ideia de sabedoria como o
mediador,ele assim um pouco confusa sua doutrina do
Logos. (3)
Gordon Clark, teólogo e filósofo, afirmou que Logos segundo
Filo era “nada mais do que a faculdade de razão de Deus”(4).
Para Filo, era a ponte entre Deus e a sua criação. Deus agia na criação através
do seu Logos.
No Antigo Testamento, o conceito de “Palavra de
Deus” ocorre em varias passagens no Antigo Testamento (Gn 1:3; Dt 32:46-47; Sl
19:8; 33:6; 119:105,130; Os 1:1). Algumas vezes ela aparece personificada (Jó
28:12; Is 55:11; Pv 8:22-31; Zc 5:1-4). No Targum aramaico, “Palavra
de Deus” é substituída com referências ao próprio Deus em Ex 3:12;19:17. Na
tradução do AT para o aramaico, Isaias 45:18 e Isaias 48:13 é traduzido como
Deus agindo através da sua palavra. Esse termo também foi usado pelos judeus
para se referirem ao seu messias. Em seus escritos, ele era comumente chamado
de “Mimra”. No próprio Targum, Deuteronômio 26:17-18 é dito que “Tu
apontaste a Palavra de Deus como rei sobre vocês esse dia,e que ele será
teu Deus”.
Assim, ao designar Jesus Cristo pelo nome
"Verbo", E tendo o pano de fundo do mundo cercado por João e seu
conhecimento bíblico, ele pegou o Verbo dos filósofos e encheu ele de conteúdo
bíblico, transformando em uma identidade pessoal, assim como Paulo fez em
Atenas (At 17), pegando um objeto pagão e enchendo ele de riquezas bíblicas. O
termo então parece indicar uma existência eterna, como também um papel na
criação (João 1:3; Cl 1:16,17...) pressuposto pela filosofia grega. Contudo
diferentemente da filosofia grega, João o caracteriza como pessoal e se
relacionando com o mundo(João 1:1-14). As considerações do teólogo e professor
James White são pertinentes ao estudo:
"Nós vimos que o Verbo é eterno. Muito tem sido dito sobre como João tomou o termo "Logos", o Verbo. Alguns dizem que pegou emprestado da filosofia grega, uma espécie de um artifício filosófico. Ninguém poderia dizer que João simplesmente deixou o Logos da mesma forma que ele o encontrou entre filósofos. Não, ele encheu o Logos de personalidade e identificou o Verbo não como alguma confusa, celeste essência que é o princípio guia de todas as coisas (como os gregos pensavam) , mas o eterno Filho de Deus, Aquele que entrou no tempo e na experiência humana como Jesus de Nazaré. O "Verbo" revela que Jesus é a mente de Deus, o pensamento de Deus, sua completa e viva revelação. Jesus não só veio a nós para nos dizer como é Deus - Ele nos mostrou. Ele é a revelação de Deus."
A esse comentário concorda Paulo nos trechos de Cl 1:15, 2 Co 4:4 e Hb 1:1-3. 1 Co 1:24 diz que Cristo é o poder e sabedoria de Deus.
Liddon em seu livro "The Divinity of Our Lord and Savior Jesus Christ", interpreta de uma forma muito bela o texto:
"Na verdade, o Logos divino é Deus refletido em seu próprio eterno Pensamento; no Logos, Deus é seu próprio objeto. Esse pensamento infinito, reflexo e contraparte de Deus,subsistindo em Deus como um ser ou essência e tendo uma tendência a auto-comunicação,___tal qual o Logos. O Logos é o Pensamento de Deus,não interminente e precário como o pensamento humano, mas subsistindo como uma forma pessoal."
Agora, no princípio se refere
claramente o começo do mundo. Em João 1:15 fala que Cristo existia antes de
João Batista. Alguns tem sugerido aqui que antes significa
liderança, e não pre-existência temporal. Contudo, se fosse apenas líderança,
seria necessario o verbo ἔστιν (todas as vezes em que antes imprime liderança,líder, é acompanhado
pelo verbo ἔστιν: Mt 3:11; 20:27;
22:38; Mc 6:21; 10:44; Lc 11:26). “Ele era antes de mim” no grego
original é “πρῶτός μου ἦν” é muito parecido com João
15:18 “πρῶτον ὑμῶν”, onde o texto em João 15:18 se refere a antes no tempo. Outrossim,
liderança já foi ensinado no mesmo versículo anteriormente, tornando o
texto redundante, e elucidativas são as versões siríacas e árabes que traduzem
o texto como "pois ele é mais antigo que eu". O Socinianismo cai por
terra a partir dessa abordagem. Tendo tratado da preexistência de Cristro,
agora, percebe-se que no principio se refere a criação do
mundo através desses versículos:
porque nele(Jesus) foram
criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam
potestades; tudo foi criado por ele e para ele. (Colossenses
1:16)
Os socinianos veem aqui uma criação
moral(reconciliação), e não uma criação cósmica propriamente dito. Contudo a
interpretação unitária é impossível.A seguir, redigirei cinco objeções
levantada por Alfred Barnes:
1) A palavra "criado" não é usada dessa forma corretamente, e nem pode ser.Que pode significar arranjar, ordenar, é verdade, mas não é usado no sentido de reconciliação ou trazer coisas discordantes em harmonia. Para a grande massa de homens, que não tem teoria para apoiar, seria entendido em seu natural e óbvio sentido, como denotando a criação material.
2) A afirmação é, que o poder "criativo"
de Cristo foi exercido em "todas as coisas". Não é referência à anjos
somente,ou à homens, ou à judeus, ou à gentios. É em relação a "tudo na
terra e no céu", ou seja, ao universo inteiro. Porque a declaração deveria
ser tão universal se deveria ser suposta somente para a criação inteligente?
3) Com essa propriedade, ou em qual sentido
tolerável, a expressão "coisas no céu e na terra" pode ser aplicada a
judeus e a gentios? Em que sentido isso pode ser dito que eles são
"visível e invísivel"? E, se a linguagem então pudesse ser usada,
como pode o fato de que Cristo é o meio para reconciliar eles ser a razão para
ele dever ser chamado de "a imagem do Deus invisível"?
4) Se for entendido como criação moral, de
renovação das coisas, de mudança de natureza, como isso pode ser aplicado aos
anjos? Cristo criou eles mais de uma vez? Ele mudou a natureza e o caráter
deles? Anjos bons não precisam de renovação espiritual; e Cristo não veio para
converter anjos caídos e trazê-los em harmonia com o resto do universo.
5) A frase aqui empregada, de "criando todas
as coisas nos céus e na terra" é nunca usada em nenhum lugar para
denotar uma criação moral ou espiritual. Apropriadamente expressa a criação do
universo. É uma linguagem notademente similar a usada por Moisés, Gênesis 1:1;
e seria assim entendida por toda humanidade. Então, se for isso, então Cristo é
divino, e nós podemos ver nessa grande obra uma boa razão o porquê ele ser
chamado de "a imagem do Deus vivo" e o porquê dele estar na liderança
do universo.
Em Colossenses 1:15 diz que Cristo é o primogênito da criação, ou seja, o que tem primazia sobre a criação material(Cl 1:17-18), e seria tautológico Paulo não usar este significado de criação no versículo seguinte. E este mesmo sentido é imprimido em João 1:1-3, o que não contradizeria Hebreus 1:2 e Hebreus 1:10.
No princípio era o Verbo,
e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele
estava no princípio com Deus. Todas as
coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se
fez.
É dito que o Verbo era no princípio. Interessante é
que a palavra era esta no sentido absoluto. A escolha da
palavra foi extremamente cuidadosa. Se o que ele quisesse dizer era um
relacionamento temporal do Verbo, ele teria usado expressões que cabem nesse
contexto,como em João 1:14 (a encarnação do Verbo,um ato temporal) ele usa
ἐγένετο. Mas aqui ele usa ἦν, evidenciado um relacionamento atemporal, a
ausência de tempo do sujeito,que nesse caso é o Verbo. Já no princípio, o Filho
já era ou existia, e isso mostraria uma eternidade do Verbo,um atributo
divino. As ricas considerações de James White são importantes:
O elemento chave para se
entender isto, a primeira frase deste magnífico versículo, é a forma da palavra
"era", que na linguagem grega que João estava escrevendo, é a palavra
en (o "e" pronunciado como um longo a, como em "I ate the
food"). É uma palavra sem tempo - ou seja, ela simplesmente aponta para a
existência antes do tempo presente, sem fazer referência a um ponto de origem.
Qualquer um pode retroceder o "princípio" tão quanto possa imaginar,
e, de acordo com João, o Verbo ainda é. Daí, o Verbo é eterno, sem tempo. O
Verbo não é uma criação que veio à existência no princípio, por que Ele
preexistiu ao princípio... João não está sozinho nisto. Jesus contrastou Abraão
"se tornando" com sua própria existência eterna em Jo 8:58 da mesma
forma. O Salmista contrastou a criação do mundo com a eternidade de Deus no
Salmo 90:2 (LXX) usando os mesmos verbos encontrados em Jo 1:1 e 14.
Dificilmente parece coincidência, não é?
Agora, João parte para definir a segunda cláusula,
o qual é "O Verbo estava com Deus". Notável é o uso da palavras
πρὸς (com), que indica "face a face", íntima comunhão. Alguns
tem sugerido que se João quisesse ensinar a Trindade, ele teria que ter
usado εἷς (trasmitindo a ideia de fusão) invés de πρός .
Contudo, nem
sempre εἷς indica “fusão” ou “para dentro”. Por exemplo,
vejamos alguns textos:
-Mateus 22:35
καὶ ἐπηρώτησεν εἷς ἐξ αὐτῶν
“... e um deles,
doutor da lei...”
-Mateus 23:9
τῆς γῆς εἷς γάρ ἐστιν
“...um só é o vosso
Pai,...”
-Mateus 26:14
Τότε πορευθεὶς εἷς τῶν δώδεκα
“Então um dos
doze, chamado Judas Iscariotes,...”
-Marcos 9:17
ἀπεκρίθη αὐτῷ εἷς ἐκ τοῦ
“Respondeu-lhe um dentre
a multidão...”
Aqui estão somente alguns exemplos escolhidos de
vários outros lugares onde não é essa ideia transmitida pela
preposição εἷς. Existe, contudo, um exemplo mais interessante no próprio
primeiro capítulo de João, onde εἷς não pode ser entendido como
"fusão".
-João 1:40
Σίμωνος Πέτρου εἷς ἐκ τῶν
“André, irmão de Simão Pedro,
era um dos dois que ouviram João falar...”(João 1:40)
Novamente, o estava tem a mesma
aplicação que o era na primeira parte do versiculo, indicando
a ausência de tempo do sujeito, e aponta para um relacionamento eterno do Verbo
com Deus. João Calvino, refutando o anti-trinitário Miguel de Servetus,
escreve:
Servetus objeta que a Palavra
não pode ser admitida ter existido antes de quando Moisés introduziu Deus
falando.Como se ele não subsistisse em Deus, por que ele não foi publicamente
feito conhecido, ou seja, como se ele não existiu com ele, até ele começou a
aparecer sem. Mas toda pretensa para fantasias absurdas ultrajantes dessa
descrição são podadas pelo Evangelista, quando ele afirma sem reserva, que a
Palavra estava com Deus; pois ele expressamente nos retira de qualquer momento
no tempo.
Uma vez que já está evidente que João 1:15-18 explica a primeira parte do prólogo, João 1:18 ensina uma peça importante para entender a passagem:
Ninguém jamais viu a Deus. O
Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer.
Seio indica um lugar de amor no mais alto sentido
da palavra ( Lucas 16:22; João 13:23), nesse caso,um amor eterno e essencial
(uma vez que eternidade e amor são um atributo divino). O texto continua e
chama o Verbo de Deus Unigenito,o que é exatamente a terceira cláusula de João
1:1.
Sobre o Verbo era Deus:
Primeiro veremos algumas regras de entendimento
grego do texto para rebater as traduções falaciosas que têm levantado nos
últimos séculos que têm deturpado o sentido original do versículo:
"Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος, καὶ ὁ λόγος ἦν πρὸς τὸν
θεόν, καὶ θεὸς ἦν ὁ λόγος."
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
com Deus, e o Verbo era Deus."
Sobre a última asserção,"καὶ θεὸς ἦν ὁ
λόγος", os unitários entendem que a passagem deveria ser traduzida por
"o Verbo era [um] deus". Eles argumentam que pelo fato de
"λόγος" não vir precedido pelo artigo "ὁ " indicaria que
"θεὸς" deveria ser traduzido por "qualidade divina",ou
"divino",ou ainda "deus".
Contudo, se todas as vezes na Escritura onde não
aparece o artigo que precede θεὸς e traduzirmos ela por "um
deus", geraria um caos. Existem dois exemplos próximos de João 1:1.
"Καὶ ὁ λόγος σὰρξ ἐγένετο καὶ
ἐσκήνωσεν ἐν ἡμῖν, καὶ ἐθεασάμεθα τὴν δόξαν αὐτοῦ, δόξαν ὡς μονογενοῦς παρὰ
πατρός, πλήρης χάριτος καὶ ἀληθείας. "
"E o Verbo se fez carne, e
habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a
glória do unigênito do Pai" (João 1:14)
Note que se esta regra de traduzir dos unitários
fosse aplicada aqui, teria que ser traduzido "o Verbo se fez uma
carne" negando o ensino do próprio João em querer afirmar a verdadeira
humanidade de Cristo. Há mais um exemplo:
"Θεὸν οὐδεὶς ἑώρακεν πώποτε·
μονογενὴς θεὸς ὁ ὢν είς τὸν κόλπον τοῦ πατρὸς ἐκεῖνος ἐξηγήσατο. "
"Ninguém jamais viu a Deus. O
Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer. "
(João 1:18)
Se os unitários aplicassem essa regra aqui, teria
que se traduzir "Ninguém jamais viu a um deus". Interessante notar é
que essa passagem se aplica ao Pai,o que estaria comprometendo a divindade
dEle. Além do mais,a Biblia de Estudo de Genebra aponta mais de 250 vezes que
Deus Pai no NT não é precedido pelo artigo (Rm 16:27; 1 Co 8:6).
Entretanto, João foi muito sábio ao não escrever o
artigo, pois afetaria a asserção anterior que é "o Verbo estava com
Deus". Se João tivesse escrito "καὶ ὁ θεὸς ἦν ὁ λόγος" ele teria
confundido as pessoas na divindade e diria que a palavra "Verbo" e a
palavra "Deus" seriam intercambíveis, ou seja, afirmando o
sabelianismo/unicismo. Em outras palavras, João estaria dizendo que o Verbo era
o Pai.
O Dr.A.Robertson, um dos maiores eruditos da lingua grega de todos os tempos, relata:
A palavra com o artigo é então o sujeito, qualquer
que seja a ordem. Então em Jo 1:1, theos an ho logos, o sujeito é perfeitamente
claro. Cf. ho logos sarx egeneto (Jo 1:14). É verdade que ho theos an ho logos
(termos intercambiáveis) seria Sabelianismo. Veja também ho theos agape estin
(1 Jo.4:16). "Deus" e "Amor" não são termos mais
intercambiáveis que "Deus" e "Logos" ou "Logos" e
"carne". Cf. também hoi theristai angeloi eisin (Mt 13:39), ho logos
ho sos alatheia estin (Jo 17:17), ho nomos hamartia ; (Ro 7:7). A falta do
artigo aqui é proposital e essencial para a verdadeira idéia.
Robertson, continua:
Uma palavra deveria ser dita sobre o uso ou não uso
do artigo em João 1:1, onde um caminho estreito é seguramente seguido pelo
autor. "O Verbo era Deus". Se ambos Deus e Verbo fossem articular,
eles seriam coexistentes e distribuídos igualmente, assim, intercambiáveis. Mas
a personalidade separada do Logos é afirmada pela construção usada e o
Sabelianismo é negado. Se Deus fosse articular e o Logos não-articular, a
afirmação seria de que Deus era o Logos, mas não que o Logos era Deus.
H. E. Dana e Julius Mantey usam João 1:1 para ilustrar o uso de artigo
para determinar o sujeito em uma sentença copulativa:
O artigo algumas vezes distingüe o sujeito do
predicado em uma sentença copulativa. Em Xenophon's Anabasis , 1:4:6, emporion
d' en to korion , e o lugar era um mercado, nós temos um caso paralelo ao que
temos em João 1:1 , kai theos en ho logos, e a palavra era a deidade. O artigo
aponta para o sujeito nestes exemplos. Nem o lugar era o único mercado, nem a
palavra era Deus por completo, como significaria se theos também tivesse o
artigo. Da forma que está, as outras pessoas da Trindade estão implícitas em theos
Perceba que o caso citado de João 1:14,o uso sem
artigo antes de "σὰρξ"(carne),revela a natureza essencial
do Verbo encarnado. Há também João 4:24.
"πνεῦμα ὁ θεὸς, καὶ τοὺς προσκυνοῦντας
αὐτὸν ἐν πνεύματι καὶ αληθείᾳ δεῖ προσκυνεῖν."
"Deus é espírito, e é
necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade."
Veja que o uso sem artigo antes de
"πνεῦμα" revela a natureza essencial de Deus,que é ser espírito e
mostraria que o termo Deus e espírito são
intercambiveis. Mesmo caso em 1João 4:8.
"ὁ μὴ ἀγαπῶν οὐκ ἔγνω τὸν θεόν, ὅτι ὁ
θεὸς ἀγάπη ἐστίν."
"Aquele que não ama não conhece a Deus;
porque Deus é amor." (1João 4:8)
Não há uso aqui também antes de
"ἀγάπη"(amor).O texto revela que amor faz parte da natureza de Deus e
que os termos (Deus e amor) novamente . Amor está na
sua própria essência, mas ela toda não é a sua essência.
Assim, a falta do artigo não diminui a
asserção da divindade de Cristo, somente estabelece uma distinção entre as
pessoas, e mesmo assim, o texto revela a divindade essencial do Verbo.
João 1:1 nega tanto o sabelianismo como o arianismo
e se ajuntarmos ainda este versículo com Gênesis 1:2 (Espírito de Deus), temos
o trinitarismo ortodoxo.
Todavia, existe um ponto que deve ser tocado, antes de concluirmos o estudo. Leia o que James White disse:
Uma outra diferente abordagem é
tomada por outro grupo de eruditos. Estes eruditos se referem ao que é chamado
de regra de Colwell, batizada em homenagem a E. C. Colwell, que primeiro
enunciou esta regra no Journal of Biblical
Literature[ em 1933. A
regra diz, "A falta de artigo não faz o predicado indefinido ou
qualitativo quando ele precede o verbo; é indefinido nesta posição somente
quando o contexto necessita disto. O contexto não faz tal necessidade no
evangelho de João".Esta é a visão de Morris, Metzger, Griffith e outros.
Apesar da regra de Colwell não ser sem exceções, é um guia valoroso. Pelo
menos, é um bom guia para tradução neste caso. Estes eruditos que vêem este
versículo sob esta luz não necessariamente entram em contradição com os outros
já citados. Primeiro deveria ser notado que Robertson e Nicoll morreram antes
do trabalho de Colwell, e seus comentários refletem isto. Então, ambas
abordagens direcionam-se às mesmas conclusões - a passagem ensina a deidade de
Jesus Cristo. Alguns eruditos vêem o theosanarto como enfatizando a natureza do Verbo, e
todos concordam que não é apenas um tipo qualitativo de descrição, dizendo
apenas que Cristo era "um tipo de Deus". Um trabalho de um autor mais
recente (março de 1973) se baseia neste assunto também. Philip B. Harner fez um estudo
extensivo de nomes predicados anartos que também foi publicado no Journal of Biblical Literature. Sua pesquisa levou a um nova preparação para visão
da regra de Colwell, é verdade. Também deveria ser notado que este artigo tem
sido usado extensivamente por aqueles que negam a Deidade de Cristo e traduzem
erroneamente a passagem. Suficiente neste
ponto é uma referência do próprio artigo de Harner:
Em todos estes casos o leitor inglês poderia não
entender exatamente o que João está tentando dizer. Talvez a cláusula deveria
ser traduzida, "o Verbo tem a mesma natureza de Deus". Esta seria a
forma de apresentar o pensamento de João, que é, como eu entendo, que ho logos,
não menos que ho theos, tem a mesma natureza que theos."
Dr. Kenneth Wuest, por muito tempo professor de grego
na Moody Bible Institute em Chicago, comentou sobre este verso:
"O Verbo era Deus. Aqui, a palavra "Deus"
está sem o artigo no original. Quando é usado desta forma, ele se refere à
essência divina. Ênfase está sob a qualidade ou caráter. Assim, João nos ensina
que o nosso Senhor é em essência Deus. Ele possui a mesma essência que Deus o
Pai, é um com Ele em natureza e atributos. Jesus de Nazaré, o carpinteiro, o
mestre, é verdadeiramente Deus.
Wuest em seu Expanded Translation, traduz 1:1:
"No princípio o Verbo estava existindo. E o Verbo
estava em comunhão com Deus o Pai. E o Verbo era em Sua essência absolutamente
Deus."
Ou seja, pode ser então
interpretado apartir de João 1:1-3 que o Filho é Deus Eterno e está em um
relacionamento essencial com o Pai.
(1)http://monergismo.com/wp-content/uploads/questoes_ultimas_livro_cheung.pdf
pg 30
(3) http://www.jewishencyclopedia.com/articles/12116-philo-judaeus#anchor15
(4)Gordon H.Clark,
Thales to Dewey; The Trinity Foundation,2000 (original 1957);p.165
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