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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Catecismo Racoviano I (refutações)


**O Catecismo Racoviano oferece 8 argumentações para provar a impersonalidade e a não divindade do Espírito Santo. Vamos analisar se são verdadeiras:

1) Muitas coisas aonde nas Escrituras são atribuídas ao Espírito Santo,não são aplicáveis a uma pessoa divina; e não poucas delas e nem mesmo a qualquer pessoa: tais são, que isso é dado por Deus, e isso de acordo com medida e sem medida, que Deus o derrama,, que os homens o bebem; ou são batizados por ou nele; que ele é dado em porções dobradas, e distribuído em partes; que há primícias dele; que ele mesmo é retirado; que ele é apagado; ---e outras coisas similares nas Escrituras (At 5:32; 1Jo 4:13; Ef 4:7; At 2:17,32; 1Co 12:13; Hb 2:4; Rm 8:23; Sl 51:12; Nm 11:17,25; 2Rs 2:9; Jo 7:39; 1Ts 5:19)  

Essa argumentação não é verdadeira. Essas características são também aplicáveis a pessoas.
Encher:  At 2:4; Ef 5:18 (Espírito Santo)_____________ Ef 3:19; 4:10 (Cristo)
Derramar: At 2:17;33 (Espírito Santo) ______________ Sl 22:14; Is 53:12;(Cristo) Fp 2:17;                                                                                                                   2Tm 4:6 (Paulo)
Batizados por ou nele: Mt 3:11;1 Co 12:13;__________ Rm 6:3; Gl 3:27 (Cristo)
  



2) Por que é evidente que o Espírito Santo é dito ser dado de Deus para os homens, e que este é afirmado concernente a isso, mesmo em lugares onde isso é comumente crido imprimir uma pessoa divina. Mas uma pessoa divina não pode ser dado ou outorgado; para ele que é dado ou outorgado tem que estar sobre a autoridade de outro, o que em hipótese alguma ser dito de uma pessoa divina, que é o próprio supremo Deus.

Essa argumentação ignora os diferentes papeis que o Pai e o Espírito desempenham na economia redentora. Ser outorgado ou dado diz respeito a economia que o Espírito desempenha, e não a sua ontologia. At 10:38 nos mostra que o Pai ungiu Jesus com o Espírito Santo em um contexto onde é exprimido a economia da salvação (At 10:36-43).
Sobre o de ser "outorgado ou dado", o contexto de João 15:26 imprimido em At 2:14-36  nos mostra que diz respeito aos diferentes papeis do Pai, Filho e do Espírito na economia neotestamentária.



3) Porque Cristo declara concernente a ele (Jo 16:13),que ele(o Espírito) não falaria dele mesmo, mas dirá tudo o que ele tivesse ouvido,ele falaria,mas uma pessoa divina não pode falar nada exceto ela mesmo.

Novamente o autor ignora os diferentes papéis do Pai e do Espírito nas operas ad extra. O contexto deixa muito claro que diz respeito aos diferentes papéis empreendidos por eles.



4) Porque Cristo diz: "ninguém conhece o Pai, exceto o Filho,e ninguém conhece o Filho exceto o Pai e aquele a quem o Filho quiser revelar", mas se o Espírito Santo fosse uma pessoa divina, o Pai não seria o único que conheceria o Filho, e nem o Filho, o Pai, mas o Espírito Santo, sem revelação de ninguém, conheceria ambos."


Essa argumentação chega a cheirar à bizarrice. O texto é retirado de Mt 11:27. Entretanto irei gastar mais tempo analisando ela. Lucas 10:21-22, que está no mesmo contexto que Mt 11:25-27, lança luz sobre o assunto:

"Naquela mesma hora exultou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos; sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.     Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. "

Aqui ele esta interessado em dizer quem é o Filho, ou seja, seu ofício (messias, salvador e rei). Isso é tanto mais claro quando percebemos também Mt 11:25.

Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.

Uma declaração idêntica se encontra em 1 Coríntios 1:18-25.

Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria o entendimento dos entendidos. Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?    Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem.    Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos,    mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.

Percebe-se que em Mt 11:25 Jesus fala da mensagem do Evangelho e a sua íntima união com o Pai. Essa união tem seu objetivo final em levar outras pessoas a conhecer quem é o Pai e quem é o Filho (Mt 11:27).Veja tambem a ligação com Cl 3:1-4.

Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.    Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra;     porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.     Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória.  

  A ênfase aqui é o papel messiânico-intercessório de Jesus Cristo, e não uma sistematização dogmática de caratér ontológico do ser divino. O texto apenas mostra a singular relação intelectual do Pai com o Filho que culmina em levar outras pessoas a conhecerem o Pai e o Filho.



5) Porque em várias passagens (Jo 5:17; 8:16; 14:21; 17:3; 1Jo 1:3; 2:23; 2Jo 3-9; Lc 9:26; Mc 13:32; 1Tm 5:21; Ap 3:5,12; 5:13), onde as menção são compostas por Pai e pelo Filho, as vezes anjos, e ocasionalmente homens também, e outras coisas ----- e nenhuma indicação é feita do Espírito Santo, embora se ele fosse uma pessoa divina ele deveria menciondo juntamente com o Pai e Cristo, muito mais do que anjos, ou homens, ou outras coisas.


Talvez, esta argumentação seja a que mais mostra a ignorância do autor. Existem inúmeras passagens que aparecem juntamente o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Is 42:1; 48:16; 61:1; 63:8-10; Mt 3:16-17; 28:19; Lc 1:35; 3:21-22; 4:1-8; At 1:7,8; 2:32,33,38,39; 5:30-32; 7:55; 10:38,44-48; 11:15-17; 15:8-11; 20:27-28; 28:25-31; Jo 14:16; 14:26; 20:21,22; 1Jo 3:21-24; 4:1,2,13,14; Rm 1:1-4; 5:5,6; 8:2-4,9,14-17,26-30; 15:16,30; 1 Co 6:11; 1 Co 12:4-6...). 
Mas existe uma passagem muito interessante que é Apocalipse 22:1-3.

"E mostrou-me o rio da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro"  (Ap 22:1)

O rio da água da vida, uma figura simbólica que nos lembra Zacarias 14:8.

"Naquele dia também acontecerá que correrão de Jerusalém águas vivas, metade delas para o mar oriental, e metade delas para o mar ocidental; no verão e no inverno sucederá isso."  

 A mesma fígura simbólica é usada em João 7:38-39.

"Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva.    Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado." 

É evidente que água da vida em Ap 22:1 se refere ao Espírito Santo, e soma se ainda que na passagem fala de Deus(Pai)e do Cordeiro(Filho), temos a Trindade maravilhosamente arranjada. O trono da divindade é um trono de um Deus Triúno.


 6) Por que o Espírito Santo é, em muitos lugares, chamado de Espírito de Deus: mas aquele que é DE Deus não pode ser Deus, e portanto não é uma pessoa divina. Para ser DE Deus, e ser Deus, são opostas uma a outra. Por essa razão deve ser acrescentado que o Espírito Santo é denominado poder ou dedo de Deus, o que não pode ser afirmado de uma pessoa na deidade,ou seja, do próprio Deus (Lc 1:35;24:49; Mt 12:28, compare com Lc 11:20).


Uma coisa antes que deve ser notada é que o Pai, inúmeras vezes é chamado Deus, invés de ser chamado de Pai. Deus e Pai são intercambieveis,conforme vemos em João 20:17. Assim, vemos também 2 Co 13:13 e incontáveis outros versículos.
Concernente ao Espírito de Deus, a preposição só fala que o Espírito vem do Pai e que ele é diferente do Pai, e não propriamente de sua essência como Deus. Espírito DE DEUS indica a sua processão, e não sua ontologia. Portanto a primeira parte da argumentação é nula e ignorante.
A passagem onde os socinianos afirmam que o Espírito Santo é o poder de Deus, esta localizado em Lucas 1:35.

Respondeu-lhe o anjo: Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso o que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus

Os unitários dizem que o versículo aqui faz uso de uma figura de linguagem chamada paralelismo. Contudo é de se estranhar o uso disso nessa passagem aqui. Se em Lucas 1:35  prova que o Espírito é poder de Deus, em Amos 1:8 provaria que Deus e seu poder são intercambíveis.

De Asdode eu exterminarei o morador, e de Asquelom aquele que tem o cetro; tornarei a minha mão contra Ecrom; e o resto dos filisteus perecerá, diz o Senhor Deus.  

Assim é visível que parece haver uma semelhança entre Am 1:8 com Lc 1:35. O uso do paralelismo aqui parece indicar somente que o Espírito e o poder de Deus estão unidos para ter um mesmo efeito, assim como em Amós 1:8 indica que a mão de Deus e Deus são citados para dar efeito comum.
Os socinianos também fazem uma ligação entre Mt 12:28 e Lc 11:20. Perceba:
Mas, se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino de Deus. (Mt 12:28)
Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino de Deus. (Lc 11:20)
Dedo de Deus se refere ao Poder de Deus, conforme podemos ver em Êxodo 8:19, onde o contexto daquele texto é mostrar a supremacia do poder divino sobre os demônios(Ex 8:18), e esse parece ser o mesmo contexto de Lc 11:20, onde é evidenciado a superioridade do poder de Deus obre as legiões de Belzebu. Bom lembrar que Jesus no contexto está curando um endemoninhado (Mt 12:22; Lc 11:14). Agora, analise esse texto:

concernente a Jesus de Nazaré, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder; o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo, porque Deus era com ele. (Atos 10:38)

Esse texto silencia toda a duvida. Percebemos que Jesus Cristo curava os oprimidos do Diabo (At 10:38--- Mt 12:22;Lc 11:14) pelo Espirito e pelo poder (dedo) de Deus. São duas coisas diferentes juntas em um próposito. Assim, não há qualquér confusão entre o poder e o Espírito de Deus.
Além do mais, o Espírito Santo é inúmeras vezes diferenciado do poder divino: Lc 4:14; Rm 15:13;1 Co 2:4...

7) Porque o Espírito Santo é de Deus (1 Co2:12)e procede do Pai (Jo 15:26); pois ele se ao menos fosse Deus, Paulo não poderia compará-lo com o espírito do homem que está no homem, como ele faz quando diz em 1 Coríntios 2:11 "Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus."mas desde que o Espírito Santo é de Deus, e não pode ser dito reciprocamente que Deus é do Espírito Santo.
 [*** o resto da argumentação número 7 e argumentação 8 não vão ser traduzidas porque é irrelevante para o processo de entendimento dela e ela mesma já foi respondida em minhas exegeses concernentes a pluralidade pessoal no ser de Deus.]
O autor realmente parece ser desonesto demais com o texto em 1 Co 2:11. Paulo não esta querendo dizer que os dois espíritos são semelhantes. Ele somente fala que a obtenção de conhecimento de um é igual ao do outro. O que é ensinado apartir deste versículo é a autoconsciência divina do Espírito Santo,  acabando por provar sua consubstancialidade com o Pai. Sobre o "DE Deus"eu já comentei na refutação da argumentação número 6.



Autor: Lucas Freitas/ Co-autor do blog.

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